A artista elabora narrativas com base em depoimentos e emoções profundas, traçando pontes entre os lapsos da história, a cartografia e rotas que se refazem como cosmologia, já que retornam às ancestralidades africanas. Suas imagens resgatam presenças e inscrições íntimas, dos guardados da memória e dos arquivos que, ora encenados, apresentam-se ritualísticos da história de sua própria família.
A fotografia, especialmente de retrato, vai construindo uma obra que se pensa por
e através de imagens. 

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Aline Motta propõe uma investigação acerca dos vestígios de seus antepassados,
e de como a construção da identidade negra de sua família, ao ser atravessada pelo racismo, constituiu-se por sobre a invisibilidade de toda e qualquer forma de existir que não seja a branca. No caminho, documentos esparsos, quase inexistentes.
O racismo se erigiu no uso de uma narrativa forjada, a partir da qual foram estigmatizadas as famílias brasileiras. A narrativa fílmica negocia, assim, uma denúncia do apagamento de presenças negras e, com isso, aproveitando-se da própria edição das imagens, a artista vislumbra o anúncio da perpetuação de nossa existência.  

 

Nos filmes, Aline Motta conecta as cidades de Lagos, Rio de Janeiro e Cachoeira e chega a lugares europeus vinculados a um de seus antepassados. Com o nome de um homem branco, uma pista lançada pela declaração oral de uma de suas avós,
a história se constrói em diversas camadas de sensação: a violência, o abandono,
a impossibilidade de construção de genealogias. Mas, as águas refazem e desfazem as sensações, as identidades, a memória. E, todo o tempo, associações e reconhecimentos de similitudes acontecem, nas feiras, nos búzios e, até mesmo,
em cultos católicos. A condição de pertencimento e o direito à história configuram
os gestos das mãos que se lavam na travessia, remam em movimento espectral, ampliado pelo reflexo dos espelhos.