
curadoria Marcelo Campos + Filipe Graciano
Tiago Sant'ana
Vídeo por Thomas Mendel

O artista garimpa pepitas de memória na beira rasa dos rios. As personagens se banham nas águas e nos convidam a mergulhar. O minério é o brilho que agrupa e reúne homens, garimpeiros, como se estivéssemos diante da construção de uma imagem modernista, a reunião de trabalhadores, tão presente na pintura brasileira.
A promessa de um sorriso vai se construindo, escondida nos seixos. A lembrança dos caminhos pendula entre o sublime e um convite à libertação, à rasura e ao desaparecimento.
Aqui, memórias épicas se efetivam através do posicionamento das pessoas em uma paisagem ensolarada, tecida por um conjunto de imagens e reflexos que reivindicam a reparação dos passos que vieram de longe. As cenas vão se tornando ferramenta fundamental para a superação da exploração, do racismo, da ganância. Um convite
a pensarmos no lugar de liberdade, de modo a romper com a redução de nossa existência à crueldade da história. De outro modo, a fábula, o lugar da imaginação, um filme-aparição.
Tiago Sant’Ana mantém a potência da pesquisa não somente em imagens fílmicas
e fotográficas, mas em objetos que se apresentam quase como vestigiais.
Torsos, sapatos, documentos preservam um processo possível de resgate da memória, contudo, fabulada pela arte, através de um deslocamento epistemológico, não só do que foi vivido no passado, mas da maneira como aprendemos a reverberar no presente a tarefa de projetar futuros. E, então, colecionar o glorioso e estridente hábito de desejar o brilho de um sorriso de ouro.

