Artista referencial para a arte brasileira, com ampla consciência dos traumas do “Atlântico vermelho”, Rosana Paulino cria como se desejasse desfazer um nó na garganta. Sua arte exprime formas complexas de existir, sobretudo, focando a presença da mulher negra na sociedade brasileira. O uso da imagem antirracista busca posicionar essa mulher negra no lugar crítico e sentimental.

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Antes estigmatizado, o corpo, agora, brota, como nas nascentes das fontes,
nos galhos das árvores no amálgama da argila. A população que ergue e planta
nossa sociedade, desde sempre, ainda sustenta nossas comunidades, refeitas
em sua humanidade e em sua subjetividade.

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Rosana evoca todas as mulheres que a precederam, mães extraordinárias da monumentalidade de nossa existência, protagonistas de lutas, que se organizaram política e socialmente, ascenderam financeiramente e reestruturaram seus cultos
no lado de cá do oceano. Contudo, Paulino mantém a cica da crítica. Observa a desigualdade entre mulheres brancas e negras, as patroas e suas subalternas. Detalha os gestos das mãos, aqueles que inventam monstros de sombras,
como nas brincadeiras infantis. Na série de gravuras, a afetação da pose das
patroas se confronta com as mãos da limpeza, do crime e da violência,
associadas pelo racismo à posição das pessoas negras na sociedade brasileira.

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Rosana Paulino nos traz uma série de imagens capazes de nos despertar em relação à história da representação das pessoas negras na fotografia do século XIX.
Trazer à representação retiniana, ou seja, aquelas que reconhecemos como duplos
da realidade, as presenças negras, faz com que a artista reelabore delineamentos
de beleza e potência dessas personagens, ainda que o lugar pitoresco tenha as colocado como um corpo subalternizado. O legado da artista se transforma,
a todo tempo, em sustento, tradição e resistência para a arte brasileira.